sábado, 26 de abril de 2008

Já o Catimbó, que não tem a pompa das religiões africanas ou a teatralidade das entidades de Umbanda se apresenta com a doutrina Católica fortemente apoiada pelos Santos de devoção e seus Mestres se apresentam com simplicidade.

Como estamos fazendo comparações com as religiões e doutrinas africanas é importante observar que os Mestres não trabalham subordinados aos Orixás de umbanda ou das nações Nagô. Diferente dos falangeiros da Umbanda ,que não são os Orixás das nações, (apesar de os Umbandistas mal informados assim os considerarem, seja porque são ignorantes no assunto ou seja porque esta comparação errada lhes é conveniente), que são subordinados a linhas, os Mestres respondem ao Mestre principal da casa. Não tem também a obrigação de pertencer a uma “cabeça” ou “coroa”. Eles podem estar e depois não estar mais.

Para as pessoas que trabalham no Catimbó e são de nação ou de Umbanda os Mestres vão respeitar os Orixás ou guias devido a energia maior destes, mas não por subordinação. Devemos atentar para o fato de que pela própria característica de os Mestres serem ex-viventes (os chamados Eguns da nação) ele se incorporam nos médiuns com uma energia mais fraca. Os espíritas tem uma classificação para este tipo de incorporação de baixa energia.Não que isto prejudique o medium ou os torne inferiores, mas, é apenas uma constatação real e característica dos Mestres.

Mestres e o Catimbó

No panteão juremista existem vários Mestres e mestras, cada qual responsável por uma atividade relacionada aos diversos campos da existência humana (cura de doenças, trabalho, amor...). Há ainda aqueles responsáveis por fazer trabalhos contra os inimigos. Nas mesas e rodas as representações das entidades relacionadas nesta categoria são as mais elaboradas, geralmente possuindo o “estado completo” e a jurema plantada; em especial a do Mestre da casa, aquele que incorpora o juremeiro, faz consultas e inicia os afilhados nos segredos do culto. Por tudo isso este Mestre é carinhosamente chamado de “meu padrinho”

Aliás esta característica de independência dos Mestres é que os tornam muito eficazes e temidos. São entidades que trabalham com magia direita e esquerda e não estão contidos por critérios ligados a Orixás

Não que os Mestres sejam desprovidos de justiça e bon senso, ou mesmo superiores a outras entidades e Orixás, mas o seu trabalho não depende de hierarquias complexas de serem atendidas.

Os Mestres são guias, orixás sem culto, acostando espontaneamente ou invocados para servir. Cada um possui fisionomia própria, gestos, vozes, manias e predileções. Sâo muito ligados a sua última vida e às coisas terrenas por isso fazem questão de algumas peças de indumentária, mas, não tem a teatralidade exagerada das entidades de umbanda. A fisionomia é uma forma muito característica de se reconhecer um Mestre. Com um pouco de experiência pode-se reconhecer um Mestre pelos ademanes, trejeitos, posição das mãos, da boca e forma de andar.

Cada Mestre tem sua linha, um canto ou cantiga, de melodia simples. Há Mestres que não tem linha, como Mestre Antonio Tirano e Malunginho, ambos ferozes. Essa linha era cantada como uma invocação ao Mestre. Sem canto não ha encanto. Todo feitiço é feito musicalmente. Alinha é o anuncio e o pregão característico do Mestre.

Cada Mestre está associado a uma cidade espiritual e a uma determinada planta de ciência (angico, vajucá, junça, quebra-pedra, palmeira, arruda, lírio, angélica, imburana de cheiro e a própria jurema, entre outros vegetais), existindo ainda alguns relacionados à fauna nordestina. Para os Mestres relacionados a uma planta que não a jurema, são estas plantas que têm seus troncos plantados nas mesas dos discípulos.

Por exemplo, a cidade do Mestre angico deve ser plantada em um tronco da arvore do mesmo nome; as cidades das mestras geralmente são plantadas em troncos de imburana de cheiro. No caso dos Mestres que têm relação com vegetais, são daquelas espécies que tiram a força e a ciência para trabalhar. Os que têm relação com animais, acredita-se que eles possam encantar-se em animais das espécies referidas, aparecendo em sonhos, visagens e, muitas vezes, assim metamorfoseados quando incorporados em seus discípulos.

Como oferendas, os Mestres recebem a cachaça, o fumo – seja nos charutos ou cachimbos -, alimentos próprios de cada um e a jurema, bebida feita com o sumo vermelho retirado da casca e da raiz da jurema e que pode receber outras ervas e componentes (cachaça, melado, canela, gengibre e outras à gosto).

Nos terreiros que sofreram maior influência dos cultos africanos, é comum o Mestre receber sacrifícios de galos vermelhos, bodes e muitas vezes de novilhos, mas isto é uma deturpação do culto da jurema que por suas origens indígenas (caboclos) e católicas não tem a tradição ou necessidade de sacrifícios em suas liturgias. Não que isto seja errado ou negativo, mas apenas que não faz parte de suas bases sendo mais um fenômeno de Umbandização.

O símbolo dos Mestres masculinos pe o cachimbo ou marca, cujo poder está na fumaça que tanto mata como cura, dependendo se a fumaçada é às esquerdas ou às direitas. Essa relação com a magia da fumaça está expressa nos assentamentos dos Mestres, em que, sempre encontram-se presentes “rodias” de fumo de rolo e cachimbos, e nas toadas:

Setenta anos, passei dentro da jurema, discípulo não tenha pena de quem algum dia lhe fez mal quando eu me zango toco fogo em um rochedo meu cachimbo é um segredo que eu vou mandar pra lá.


Quando em terra, incorporados, os Mestres já chegam embriagados, tombando de lado a lado e falando embolado. São brincalhões chamam palavrões, mas o que falam é respeitado por todos.

Quanto às mestras, reconhecem-se seus assentamentos pela presença de leques, bijuterias, piteiras, cigarros e cigarrilhas. Como no caso dos Mestres, existe uma infinidade destas entidades, com atributos e especialidades nas questões mundanas e espirituais. Algumas casas fazem um distinção entre as mestras que trabalham nas esquerdas e nas direitas. Nesta última categoria, encontram-se mestras como Gertrudes e Lorinda, ambas parteiras na vida material, que hoje ajudam as mulheres a darem a luz mais um ser vivente.

Algumas mestras morreram virgens, por isso ganharam o estatuto de princesas quando ingressaram nas moradas d além. Vale lembrar os nomes de algumas princesas como a Mestre marianinha a princesa catarina e a princesa rosa vermelha.

As mais comuns são as chamadas mestras das esquerdas, entidades que na vida material foram mulheres de vida fácil; mulheres das ruas e dos cabarés nordestinos. Tais mestras são peritas nos assuntos do coração, são elas que dão conselhos às moças e aos rapazes que queiram casar-se, que realizam as amarrações amorosas, que fazem e desfazem casamentos.

Muito vaidosas, quando incorporadas elas travestem os seus discípulos de forma a melhor aclimatar a matéria as performances femininas. Quando entre seus afilhados e discípulos no mundo material, bebem cerveja, cidra e espumantes, embora não rejeitem outras bebidas que se lhes ofereçam. Gostam de comer peixe assado que é depositado em suas princesas para lhes dar força para trabalhar.

O mestre é uma sobrevivência do feiticeiro europeu e não um colega do babalorixá, babalaô, ou pai-de-terreiro banto ou sudanês. Catimbó não é sinônimo de Candomblé, Macumba, Xangô, grupo de Umbanda, Casa de Mina, Tambor de crioulo.

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